“Barrigudo” de Hélder Muteia nas livrarias

Cultura

Há um Barrigudo por se conhecer em Moçambique: bem redondinho, daí ser alvo de muita troça num dos textos de Hélder Muteia. Na verdade, “Barrigudo” intitula o conto inaugural do novo livro do membro fundador da Charrua. A obra em causa, O barrigudo e outros contos, será lançada às 17h da próxima quinta-feira, no Auditório do BCI, em Maputo, e, segundo o autor, oferece uma visão diferente do mundo.

Os textos mais antigos desta colectânea de Muteia foram escritos há mais ou menos trinta anos, no entanto o livro inclui ainda contos produzidos na década de 90 e no princípio de 2000. Em geral, as histórias do autor reflectem não apenas a realidade da ocasião em que foram escritas, mas também as diversas facetas que o autor foi assumindo no momento em que as escreveu. Talvez por isso, explica o escritor: “Cada conto no livro tem a sua personalidade, mensagem e sugestão emotiva, porque em cada texto procuro sugerir várias emoções que terminam com uma emoção maior. Neste livro há textos virados para o amor, para o quotidiano e para o cidadão comum, com uma linguagem simples. Assim, é difícil encontrar um denominador comum”.

Ao longo das três décadas de entrega à literatura, Hélder Muteia publicou quatro obras literárias, o que não é de todo muito. Para que não haja qualquer equívoco, o escritor e poeta reitera o seu compromisso com a literatura, garantindo que continua a escrever com o mesmo entusiasmo. “O que tem falhado um pouco é a actividade de publicação. Tenho muita coisa escrita e decidi que, a partir de agora, vou começar a publicar mais. O meu percurso teve várias curvas e contracurvas, teve momentos em que participei da vida política, teve momentos em que estive mais no associativismo literário, na Charrua e na Associação dos Escritores em geral. Algumas dessas curvas e contracurvas impediram-me a actividade editorial. Mas, desde já, prometo que passo a publicar pelo menos um livro por ano, para compensar o tempo em que, digamos, estive um pouco no matope da história, do ponto de vista literário”. E o escritor diz mais: “Se em algum momento falhei no compromisso com a escrita, que fique vincado que agora vou acertar o passo com os meus leitores”.

O primeiro texto do livro, “O barrigudo”, foi escrito em memória das vítimas do bombardeamento do Apartheid, na Matola.

Desenvolvimento da literatura depende de políticas claras

Reflectindo sobre o nível de produção literária no país, Hélder Muteia não duvida de que as letras moçambicanas estão a evoluir. “Temos uma história que passou por poesia de combate, em que a Charrua contribuiu para a sua ruptura, abrindo um leque para que a nossa literatura ficasse mais surpreendente. Hoje temos uma nova geração de autores, que traz sugestões interessantes de se ler, o que revela que a literatura moçambicana vai continuar a avançar”.

Ainda assim, é preciso que algumas coisas aconteçam no que diz respeito à consolidação das políticas de apoio à cultura e à literatura. Bem dito, Muteia entende que Moçambique necessita de políticas claras para que se fomente o hábito de leitura, afinal sem leitores não há escritores e sem ambos a sociedade perde a consciência colectiva, que, de certa forma, fica maltratada quando não se partilham valores culturais: “Moçambique vale-se muito da sua diversidade cultural e grande parte dessa diversidade reflecte-se melhor através da literatura. Então, é necessário que esta arte prevaleça e os leitores compreendam as mensagens que são transmitidas por via dos livros. As políticas que promovem a leitura começam sempre na escola e até mesmo na educação pré-primária. Tenho a experiência de trabalhar em alguns países, como a Nigéria, com uma política de promoção da leitura que acontece de forma dinâmica e moderna. Por isso, ao nível das escolas nigerianas, nota-se que há uma sede pela leitura, pelo conhecimento e de percorrer as páginas dos livros e dos jornais. Isso não vem por acaso, depende de políticas claras. Nisso o Estado tem responsabilidade de, através de políticas, promover o que é bom e reprimir o que é mau”.

O barrigudo e outros contos será apresentado por António Barros.

Fonte: opais.sapo.