População queixa-se de inação da polícia em Cabo Delgado

Sociedade

Um grupo de habitantes da vila de Macomia, no norte de Moçambique, tentou ontem invadir a esquadra da polícia para agredir um suspeito de atacar aldeias da região que, alegadamente, estará ali detido, disse à Lusa fonte local.

A população queixava-se de inação das autoridades e queria fazer justiça pelas próprias mãos, tentando forçar a entrada na esquadra pelas 11:00 horas, sendo a polícia obrigada a disparar tiros para o ar, para dispersar a multidão, acrescentou.

“Houve tumulto” e a estrada principal que atravessa a vila, que liga o norte (Palma) e o sul (Pemba, capital provincial) da província, esteve cortada durante algum tempo devido à confusão que se gerou no local, referiu a mesma fonte.

Alguns residentes levavam paus e pedras nas mãos, mas não chegou a haver confrontos, acrescentou.

O distrito de Macomia tem sido um dos mais atingidos pela vaga de ataques de grupos armados que desde há um ano se verifica contra aldeias remotas da província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

O protesto da população aconteceu seis dias depois da invasão da aldeia de Ntoni, posto de Mucojo, onde foram abatidas a tiro dez pessoas e feridas dezenas de outras, duas das quais viriam a sucumbir numa unidade de saúde local.

“Estamos determinados em neutralizar os grupos de malfeitores que tentam perturbar a ordem e tranquilidade em alguns distritos a norte da província de Cabo Delgado”, referiu o Presidente da República, Filipe Nyusi, ao discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, na quarta-feira.

No entanto, apesar das declarações do Governo e das autoridades e mesmo com um reforço visível de forças militares no terreno, os ataques continuam, provocando, desde outubro de 2017, um número indeterminado de mortos, na ordem das dezenas, e um número ainda maior de deslocados.

Depois de terem surgido associados a cultos muçulmanos radicais, nomeadamente numa mesquita de Mocímboa da Praia, os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindicação nem deram a conhecer as suas intenções, mas investigadores sugerem que a violência está ligada a redes de tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira.

Os ataques acontecem numa altura em que avançam os investimentos de companhias petrolíferas (Anadarko, Eni e ExxonMobil) em gás natural na região, mas sem que até agora tenham entrado no perímetro reservado aos empreendimentos.

Fonte: noticias.sapo.