Micro 2 faz do quarto álbum uma ponte do conhecimento

Cultura

Há seis anos que o grupo Micro 2 não lançava um disco. Ao fim do maior intervalo desde que começaram a publicar em álbum, Legacy e Flash Enccy regressam aos holofotes com a proposta Planeta terra. Este é título do quarto trabalho discográfico da dupla da Matola.

Nesta obra musical, os dois rappers investem, a nível do conteúdo, em mensagens de âmbito social, abordando diferentes temáticas relacionadas ao quotidiano das famílias moçambicanas. Nesse sentido, por um lado, o CD constituído por 14 músicas explora cenários dramáticos, causados pela violência doméstica nos lares. Por outro, Planeta terra enaltece a necessidade de se ter que perdoar ao próximo pelos erros cometidos, mergulha na política, na actual atmosfera socio-económica do país, no entanto, com cuidado e subtileza para não ferir sensibilidades. Esta foi sempre a maneira de estar do Micro 2 no Hip-Hop, a intervenção social, abrangente tanto à realidade africana na mesma proporção que à ocidental. Por isso, o produto pretende conquistar mercados como Angola, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal.

Planeta terra é um projecto da linhagem “Underground”, dedicado a levar a verdade e o sentimento do povo aos demais. Concorre, para o efeito, as participações de Pitcho, Azagaia ou Spice nas músicas.

E porque um álbum destes é feito de sonhos e desejos, a dupla de MC espera que os temas proporcionem nos que forem a ouvir o respeito pela liberdade de expressão. Este é, igualmente, um trabalho de denúncia de factos que são vividos no mundo contemporâneo, no qual o ser humano aparece com desafios e muitas adversidades. A fim de tornar as suas pretensões palpáveis, Flash Enccy e Legacy apostaram numa mensagem bem elaborada, que, acreditam, vai garantir uma nova percepção dos factos que acontecem no país e no estrangeiro, afinal, “Esta é uma forma de manifestar a nossa filantropia, de maneira a promovermos saúde mental às pessoas. A música tem esse poder e, nós, como grupo, há mais ou menos 12 ou 15 anos temos lançado trabalhos nesse sentido, incentivando à leitura porque não devemos estar presos a aquilo que aprendemos na escola, temos de nos cultivar de várias formas, inclusive, sendo autodidatas”, afirmou Legacy, sublinhando, logo de seguida: “a música é uma ponte para o conhecimento”.

Planeta terra é um disco produzido nos estúdios nacionais, feito para preservar a longevidade criativa dos autores, sempre a pensar no desenvolvimento do movimento do hip-hop moçambicano, incluindo, igualmente, raciocínio à volta da exclusão social, vencendo a monotonia.

Partindo das abordagens do quarto álbum, os meninos do Micro 2 aproveitaram para projectar um quadro sobre a actualidade musical moçambicana. Para Flash Enccy e Legacy, a saúde da música no país está boa ao nível de quantidade, porque já existe muito produto. Todavia, entende a dupla, há questões a revelarem que Moçambique ainda se encontra numa fase muito embrionária no que diz respeito, por exemplo, à protecção dos direitos do autor. “Nós entendemos que os artistas não devem viver apenas de espectáculos ou da venda de seus artigos, há questões que devem ser acauteladas de modo que, ao fim de seis meses ou um ano possamos tirar proveito financeiro da nossa obra. Ainda assim, acredito que vamos evoluir dentro de anos, porque temos muitos talentos e estamos todos sempre aprender”, vaticinou Legacy.

Este álbum, além de ter sido feito com dedicação, é um produto de amizade entre os membros do grupo Micro 2. Talvez, por isso, ter sido natural alcançar-se o que Flash Enccy considera evolução qualitativa em relação aos anteriores três álbuns.

Planeta terra será lançado no dia 28 deste mês, no Beer Garden, Jardim dos Madjermanes, na cidade de Maputo, entre 10 e 17 horas.

DOIS MICROS NUMA SÓ LINGUAGEM

Micro 2 ou M2 é um dos principais e mais antigos grupos de Hip-Hop moçambicano. É autor de quatro álbuns. Além de Planeta terra, lançou Andando a pé (2005), Caneta e papel (2008) e A oficina do conhecimento (2012). O grupo foi formado em 2004. Na altura, Ras TM era membro integrante do colectivo e desempenhava o papel de produtor e Manager do grupo. Com o artista, o grupo concretizou o primeiro álbum.

Fonte: opais.sapo.mz.