Fissuras na Ponte 25 de Abril estão identificadas há oito anos

Economia Internacional

Projetista da manutenção da ponte sugeriu reparações na estrutura há dois anos mas garante que fendas já tinham sido registadas antes

Há oito anos que estão identificadas as fissuras e outras anomalias na estrutura da Ponte 25 de Abril pela equipa permanente no local do Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ). As obras de intervenção para reparar as fendas naquela estrutura que liga Almada a Lisboa foram recomendadas há dois anos. Estes dois factos foram confirmados ao DN pelo engenheiro Tiago Abecasis, um dos projetistas da equipa que concluiu a avaliação das falhas da estrutura para a empresa norte-americana Parsons (projetista da Ponte 25 de Abril), no início de 2016. Entretanto as fendas “aumentaram de comprimento”.

Apesar destes sucessivos alertas ao longo dos anos, só anteontem a Infraestruturas de Portugal (IP) anunciou o lançamento do concurso público internacional para os trabalhos de manutenção que vão durar dois anos e custar 18 milhões de euros. O anúncio surgiu um dia antes de a revista Visão publicar o relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), entregue há um mês ao governo, a denunciar a necessidade de obras urgentes na ponte por causa de fissuras numa zona estrutural da travessia. Ontem, ao final do dia, o presidente do conselho diretivo do LNEC, Carlos Pina, explicou que o relatório foi pedido ao laboratório para identificar as anomalias da infraestrutura. E garantiu que a ponte “está e estará segura”, e que não existe perigo para os utentes.

A equipa que trabalhou para a Parsons estudou e projetou, de 2014 ao início de 2016, “a intervenção que devia ser feita de reparar fissuras e outras anomalias como o bloqueamento dos apoios de umas vigas do tabuleiro rodoviário, que deviam permitir determinados deslocamentos e não permitem”, descreveu Tiago Abecasis. Segundo adiantou o engenheiro, a intervenção iria custar 18 milhões de euros, precisamente o valor avançado na quarta-feira pela IP.

“Não precisámos de fazer uma recomendação de obras com urgência porque todos os técnicos da IP envolvidos manifestaram esse desejo de começar rapidamente com as obras”, sublinhou o técnico.

“As fissuras estavam identificadas há pelo menos oito anos pelos técnicos do ISQ. “Todos os meses o ISQ – que tem uma equipa permanente na estrutura – produz um relatório de inspeção à ponte com as dimensões das fissuras e elas todos os meses estão a aumentar de comprimento.”

“É seguro circular na Ponte 25 de Abril desde que se mantenha uma observação permanente da evolução das fendas”, garante Tiago Abecasis. Mas “quanto mais demorarem a fazer as obras mais risco há e mais cara fica a reparação”. Se a intervenção tardar muito “pode vir a ser necessário fechar os tabuleiros rodoviário e ferroviário”. Para já, ainda não é.

O “desejo de começar rapidamente com as obras”, que Abecasis dizia existir na IP no início de 2016, não se materializou. O DN apurou com fontes do setor que sempre que os técnicos perguntavam porque é que a obra não começava a resposta era sempre a mesma: “Isso está no Ministério das Finanças.”

Entretanto, este ministério desmentiu que a autorização para as obras tivesse demorado cerca de seis meses, conforme foi notificado. “A Lei do Orçamento do Estado para 2018 previa já os montantes necessários à intervenção na Ponte 25 de Abril, no quadro do calendário de manutenção regular e plurianual previamente estabelecido”, esclareceram ontem as Finanças em comunicado. “Recentemente, dois relatórios, um de janeiro de 2018 (realizado pelo ISQ) e outro de fevereiro de 2018 (realizado pelo LNEC), indicaram a necessidade de realização de obras a curto prazo, confirmando a programação previamente definida pela Infraestruturas de Portugal. Face à urgência identificada nesses relatórios, o Ministério das Finanças aprovou prontamente as respetivas portarias de extensão de encargos”, acrescenta o ministério.

Segundo a Infraestruturas de Portugal o concurso público para a adjudicação das obras vai avançar neste mês. A este propósito, a ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques, esclareceu que “os mecanismos de decisão, aprovação e criação de concursos não são instantâneos”, considerando que o processo “está em bom ritmo”.

A obra, que só agora irá começar, está relacionada com os elementos de apoio da ponte e é a que foi recomendada pela equipa de Tiago Abecasis. O presidente da IP, António Laranjo, admitiu ontem que já sabia da existência de fissuras na Ponte 25 de Abril há dois anos, mas rejeitou perigo, alegando que, nessa situação, “a ponte estaria fechada”. “Não é uma obra urgente nem emergente”, apesar de ser “prioritária” para a IP, declarou o responsável em conferência de imprensa. António Laranjo tentou também “esclarecer e tranquilizar” os utilizadores da estrutura vincando que “nunca haverá perigo de circular nesta ponte”.

A Fertagus adiantou ao DN que foi “informada pela IP de que quando acontecerem as obras na ponte estas não vão afetar a circulação dos comboios pois serão feitas à noite e ao fim de semana”. Com Pedro   Sousa Tavares.

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